segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Liberdade

Pensamento


A liberdade


Tenho 53 anos, portanto, sou do tempo em que reinava a ditadura do pensamento ou a restrição de poder-se dizer o manifestar o descontentamento perante as situações menos correctas que ocorriam no mundo e muito em particular no nosso país.

Nessa altura não tinha muita noção desse estado de coisas, porque vivia na aldeia e nunca me era dado ouvir ou ler nada mais do que a era escrito ou transmitido pela rádio ou televisão nacionais. Talvez por isso, não sentia tanta falta assim dessa informação para viver e procurar o sustento de que precisava. Passei em criança muitas privações e até fome em alguns momentos, mas era entendido como uma situação normal.
Comecei a trabalhar com 10 anos, mas só com 18 anos iniciei a minha carreira profissional, em 1 de Abril de 1974, ou seja, no limiar da passagem de uma situação política para outra totalmente oposta. Só nessa altura é que comecei a ter a noção das diferenças de comportamento dos portugueses. Foram extraordinárias estas mudanças, com tudo o que de liberdade de expressão nos trouxe.

Mas como em tudo, houve gente que se aproveitou ou quis aproveitar-se desta euforia da população tal como eu na maioria pouco informada politicamente, para conduzir os incautos no sentido de atingirem os objectivos pessoais ou de grupos bem definidos. Nasceram os partidos, que tentaram conduzir as massas corporativamente no caminho que entendiam os seus dirigentes, os mais eficientes e progressivos. Sei que tiveram e ainda têm um papel muito importante no que conseguiram, porque foi possível por a nu as sua diferenças a possibilidade de se escolher o caminho que a maioria entendia como o melhor para a sociedade de progresso.
Contudo, alguns deixaram marcas que ainda hoje, no meu entendimento, são o principal entrave ao desenvolvimento do nosso país. Foi enfatizado nessa altura a ideia da liberdade de que tudo era permitido, de todos os direitos, contra tudo que era patrão, aumentos substanciais de vencimentos, muitas horas extraordinárias, …….
Só que nunca foi dito pelos mesmos dirigentes desses mesmos movimentos ou partidos de que a liberdade obrigava a que para ter todos esses direitos, todos e cada um tinha antes de tudo de cumprir escrupulosamente o seu dever, porque só cumprindo bem o nosso dever estamos a dar, sem necessidade de nos ser pedido todos os nossos direitos. Não concebo a ideia que hajam mais direitos do que deveres. Para mim cada direito está implícito um dever associado. Esta atitude ainda hoje é reflectida na linguagem das várias cúpulas sindicais, das quais nunca ouvi dirigir-se aos seus associados ou seguidores que para poderem exigir ou reivindicar têm de cumprir cabalmente a sua obrigação. Esta imagem das posições das cúpulas dos sindicatos, e não de 98% da massa trabalhadora dos seus associados ou simpatizantes, é mantida como forma de justificar e perpetuar as suas posições sociais, como trampolim politico, ou por medo de perderem o seu emprego (tacho), porque muitos, (e conheço alguns), nunca quiseram trabalhar e vêm nestas organizações a forma de estarem permanentemente a faltar ao trabalho ou de férias, dando a sensação de que estão muito ocupados a defenderem causas, que na maioria das vezes lutas decididas nos seus gabinetes por meia dúzia que se sentem ameaçados com a perda do (emprego).
Exemplo disto para mim, e muito recente são os professores, que já fizeram passar para a opinião pública, que a sua luta é só contra alguma coisa a que não estavam habituados. Penso que se o sindicato dos professores estivesse interessado em dar dignidade à classe e à profissão, não se limitavam a dizer que não se importam de serem avaliados, mas sim, deveriam exigir do estado serem avaliados para que a sua imagem ficasse dignificada, fazendo desaparecer todos os fantasmas da dúvida que pairam sobre eles, tendo em conta que é exactamente esta profissão que mais tem o dever de avaliar os seus alunos.


Por hoje fico por aqui. Outros assuntos merecerão o meu comentário para mais tarde co:
Horários de trabalho. Patronato, saúde …….